quinta-feira, 19 de novembro de 2020

 





Racismo: o que a Bíblia diz?






 

Romanos 2.11 “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.”

Introdução: Um dos sérios problemas da humanidade que até os dias atuais tem afligido milhões de pessoas no mundo, vítimas do preconceito e ignorância. Infelizmente até mesmo as religiões têm sido usadas para pregar formas de racismo, chegando a usar textos bíblicos para legitimar este erro. Por outro lado, existem aqueles que não aceitam que são racistas, mas se comportam de forma preconceituosa.

Por isso é importante estudar à fundo as Escrituras e descobrir como este tema é tratado na Palavra de Deus para então discernir a ética do Evangelho sobre o assunto. Para entender isso precisamos perguntar: qual a origem das raças? Quais eram as raças dos povos bíblicos? Existiram personagens negros na Bíblia? E então vamos perceber que preconceito é pecado e aprendemos a não fazer uma leitura racista da Bíblia.

 

O que a Bíblia ensina sobre Racismo?

Vamos refletir sobre o racismo na Palavra de Deus:

1- A origem das raças

Gênesis 3.20 “E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos.”

Todos os seres humanos são descendentes de Adão e Eva, então as raças têm uma mesma origem genética. Pesquisas científicas como o Projeto Genona que desvenda o DNA humano revelam que todas as pessoas têm genes em comum numa árvore genética de fonte semelhante. As características das raças são formadas naturalmente pelo corpo humano se adaptando ao clima e meio ambiente, mantendo semelhanças familiares pelas gerações, o que diferencia pessoas em lugares distantes.

A Bíblia relata a existência de inúmeras raças, como por exemplo os gigantes (Gênesis 6.1-4), que existiam em grupos familiares diferentes (Números 13.33; Deuteronômio 2.10,11; Josué 15.13,), mas que foram exterminados devido às guerras (II Samuel 21.16-22), o que demonstra o preconceito assolando a humanidade em toda a sua história.

O Jardim do Éden, embora ninguém saiba exatamente onde seria a localização, segundo estudiosos teria larga extensão, podendo abranger grande parte da África e da Ásia, segundo a descrição de Gênesis que cita a região de Cuxe, atual Nubia (Gênesis 2.13) até os rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia (Gênesis 2.8-14). Isso comprova que a humanidade surgiu na região africana e proximidades da Ásia. 1

O pensamento de que a pele negra seria a “marca” de Caim, como castigo por haver este matado seu irmão Abel, é uma heresia por falta de compreensão bíblica (Gênesis 4.15). Além disso, toda a descendência de Caim foi destruída no Dilúvio, quando se iniciou uma nova geração da humanidade.

Gênesis 9.18,19 “Os filhos de Noé, que saíram da arca, foram Sem, Cam e Jafé; Cam é o pai de Canaã. São eles os três filhos de Noé; e deles se povoou toda a terra.”

A Bíblia deixa claro no texto acima que todos os seres humanos têm a mesma origem, agora da geração de Noé a partir do Dilúvio, excluindo qualquer tipo de diferenciação entre os seres humanos. Mesmo que muitos pensem ser uma fábula, o Dilúvio trata esta questão étnica da humanidade igualando todas as pessoas.

 

Um outro equívoco é quanto ao filho de Noé, Cam, ascendente dos cananeus, que foi amaldiçoado por seu pai, por ter visto sua nudez (Gênesis 9.25). Para muitos a pele negra e a escravidão surgiram com a maldição de Cam, mas isso também é uma heresia e desculpa para discriminação. Embora as nações dos filhos de Cam originaram povos africanos como Egito, Líbia e Etiópia (Gênesis 10.6), não há indícios quaisquer de que ‘ficaram’ negros, na verdade, todos estes personagens já deviam ser de pele escura anteriormente.

Atos 17.26 “de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação

Biblicamente não existe qualquer hipótese de que qualquer raça tenha sido criada como castigo ou consequência de algum erro, mas fica claro que todas as raças veem de Deus, que colocou cada grupo em uma região específica, em sua “multiforme Graça” (II Pedro 4.10).

Todas as raças foram criadas por Deus!

2- Os povos bíblicos e suas raças

Jeremias 13.23 "Pode o etíope mudar a sua pele ..."

Uma das nações negras mais conhecidas e citadas na Bíblia é a Etiópia, mas o Egito também está na África, além de Sabá ou Sebá (Isaías 43.3), Cuxe, atual Nubia ou Etiópia e Pute, também chamada de Líbia, são locais citados que confirmam a presença africana na história bíblica (Naum 3.9). No Pentecostes, africanos estavam presentes vindos do Egito, Líbia e Cirene, sendo alcançadas e levando o evangelho para suas nações, revelando o propósito salvador para estes povos e seu importante papel na evangelização (Atos 2.10).

Amós 9.7 “Não me sois, vós, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes?”

As nações africanas são citadas na Bíblia constantemente junto com Israel. O povo judeu etnicamente é semita, com pele morena escura. Israel, geograficamente está na Ásia, divisa com a África, embora antes da construção do canal de Suez no Mar Vermelho, a região da atual palestina era parte do continente africano. Então o povo de Israel é de origem semita, podendo ser considerado tão africano como asiático. Entre os judeus haviam sinagogas de alexandrinos e cireneus, vindos da África (Atos 6.9).

A miscigenação dos judeus começa a partir do Cativeiro Babilônico e posteriormente com a diáspora. Os judeus da atualidade são descentes de Europeus que voltaram para Israel. Basta olhar para o mapa e perceber que os judeus têm uma ligação natural com a África. Então os personagens bíblicos que conhecemos não eram brancos, mas no mínimo morenos ou provavelmente negros. 

Salmo 68.31 “Príncipes virão do Egito; a Etiópia cedo estenderá para Deus as suas mãos”.

Sem dúvida, a nação africana que mais influenciou o povo judeu foram os egípcios que comprovadamente não eram brancos, mas negros e mulatos. Quando Jacó foi sepultado em Canaã, os cananeus confundiram os filhos de Israel com os Egípcios, por sua semelhança (Gênesis 50.11). Características da cultura africana podem ser percebidas no canto de Miriã ao sair do Egito, com cantos, danças e tamborins (Êxodo 15.19-21). Embora o Egito tenha sido inimigo do povo de Israel em toda sua história, Deus promete salvação também a este povo, pois o próprio Messias passou sua infância em terras egípcias (Mateus 2.13-19). Existem estudos e comprovações históricas, como por exemplo sobre a dinastia dos faraós negros, que comprovam a cor da pele original dos egípcios. 3

A maioria dos povos bíblicos não eram brancos!

3- Personagens negros na Bíblia

Sempre houve diferenças de tons de pele, mas os personagens da Bíblia em sua maioria, senão todos, não eram brancos como os pintores ou artistas filmes americanos e europeus os retrataram. As imagens de afrescos das catacumbas de Roma revelam muitas figuras de pessoas com pele morena escura, desde Eva até o próprio Cristo e seus discípulos. 

Personagens negros da Bíblia podem ser identificados pela região geográfica, mas primeiramente é preciso libertar a mente do racismo imposto culturalmente para então conseguir entender as características étnicas dos personagens bíblicos em detalhes das escrituras. Talvez os escritores não se preocupassem tanto em descrever fisicamente os personagens porque eram pessoas comuns a eles, mas alguns estudiosos creem que muitos textos foram adulterados de forma racista. 

Alguns personagens negros da Bíblia:

ZÍPORA: a esposa de Moisés, filha de Jetro (Êxodo 2.21), que era de origem cusita, de Cuxe na Etiópia (Números 12.1), o que causou a revolta de Arão e Miriã. Como Miriã não gostava da pele negra, Deus a castigou por seu preconceito ficando leprosa com a pele branca como a neve (Números 12.10). Deus havia abençoado a união em casamento de pessoas do povo de Israel com os etíopes (Êxodo 34.11-16), o que exclui a hipótese de um erro de Moisés.

SULAMITA: uma das mulheres do rei Salomão, destacada nas personagens de cantares onde se descreve: "Eu sou morena, mas agradável, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou” (Cantares 1.5,6).

RAINHA DE SABÁ: a monarca africana que foi conhecer a sabedoria de Salomão (I Reis 10.1-13), foi chamada por Jesus de “rainha do sul” (Mateus 12.42), talvez se referindo à África, ao sul de Israel, onde fica a região de Sabá (Gênsis 10.7).

EBEDE-MELEQUE: um etíope funcionário do rei Zedquias, foi o homem que ajudou o profeta Jeremias quando o jogaram numa cisterna e Ebede-meleque o retirou (Jeremias 38.6-13).

SIMÃO CIRINEU: o homem que ajudou Jesus a levar a cruz era de Cirene no norte da África, o que os evangelhos sinóticos fazem questão de registrar (Mateus 27.32Marcos 15.21Lucas 23.26). Existem indícios de ser o mesmo Simeão Níger (que significa negro e se refere à Nigéria), citado em Atos 13.1.

OFICIAL ETÍOPE: um alto funcionário da rainha Candace da Etiópia, responsável por seus tesouros, que foi evangelizado por Filipe no caminho e se converteu, sendo batizado (Atos 8.26-40). Os cristãos etíopes consideram este homem o responsável pela evangelização de seu povo.

A comprovação da presença de negros entre os personagens bíblico serve para constatar que as pessoas da região de Israel e redondezas não eram brancas em sua maioria, ou que no mínimo havia mais presença de negros do que se imagina.

Outras hipóteses de personagens negros da bíblia são:

QUETURA: uma das esposas de Abraão (Gênesis 25.1-4), segundo o historiador Flávio Josefo, podia ter sido negra, tendo de seus descendentes, povos africanos como Sabá, além de Efer (I Crônicas 1.32,33), que segundo Josefo, deu origem ao nome África. 

JÓ: quando diz que “enegrecida se me cai a pele, e os meus ossos queimam em febre” (Jó 30.30), poderia não estar falando apenas de um efeito de sua doença, mas de estar queimado de sol ou da cor de sua pele.

ABSALÃO: devido ao peso de seus cabelos, que por sinal não deveriam ser lisos, pois “quando cortava o cabelo (e isto se fazia no fim de cada ano, porquanto muito lhe pesava), seu peso era de duzentos siclos, segundo o peso real” (II Samuel 14.26).

MULHER CANANEIA: os cananeus eram negros, descendentes de Cam, que gerou as nações africanas, então a mulher cananeia pode ter sido negra, o que explica também o preconceito revelado no texto (Mateus 15.22).

Sobre diversos personagens bíblicos existem especulações sobre serem negros, como Tamar, Jezabel, Bete-Seba, Sofonias e tantos outros, embora não haja muitos indícios textuais. Porém, como já foi dito, as pessoas citadas na bíblia não eram brancas como os europeus, no mínimo morenos como asiáticos ou mais próximos dos africanos.

 

Jesus poderia ser negro?

Apocalipse 4.3 “E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica”

SIM. No Apocalipse Jesus se revela com a cor semelhante a duas pedras amarronzadas, a jaspe e a sardônica, o que poderia ser um indício não somente de sua manifestação inclusiva para todas as raças, mas também uma demonstração de sua origem terrena. Isso pode ser inimaginável para muitos que estão acostumados com a imagem europeia de um Cristo de pele branca com olhos azuis, mas a cor morena ou negra é o mais próximo da realidade geográfica e étnica da época. Imagine como seria uma pessoa que nasceu na divisa da África e morou um terço de sua vida no Egito (Mateus 2.13-19). Embora ninguém saiba exatamente como era a aparência física de Jesus, o fato de se apresentar negro no Apocalipse, desfaz a hegemonia branca pregada pela religião por séculos usando sua imagem.

Os personagens bíblicos não eram brancos!

 

4- Preconceito é pecado

Tiago 2.9 “se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores”.

Deus é justo e não aceita o preconceito contra nenhuma pessoa (Deuteronômio 10.17), visto que criou o ser humano à sua imagem e semelhança (Gênesis 1.27) e deixou o mandamento de não diferenciar as pessoas (Deuteronômio 16.19). Todas as pessoas devem ser tratadas igualmente (Tiago 2.1).

Gálatas 3.28 “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”.

A história bíblica narra  a bênção sobre os descendentes de Abraão (Gênesis 12.1-3), o que se tornou uma exclusividade para os judeus, devido à idolatria de outros povos, mas em Cristo, com a salvação pela graça, Deus abre as portas para todas as nações, visto que o próprio povo de Israel rejeitou o Senhor e não recebeu o Messias (Romanos 11.25). Então não existe um povo escolhido, pois a salvação é para todos os povos (I Pedro 2.9). Tanto homens como mulheres, negros, índios, brancos, jovens, crianças, idosos e todo tipo de pessoa é alvo da bênção e salvação (Joel 2.28-32).

João 17.20-21 “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste”.

A oração sacerdotal de Jesus por seus seguidores revela o seu desejo para a Igreja, que é viver em unidade (João 17.22,23). Impressionante notar que Jesus orou antecipadamente por aqueles que ainda viriam a conhece-lo, o que abrange outros povos, visto que estava limitado geograficamente.

Atos 10.34,35 “Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.”

O apóstolo Pedro foi despertado por Deus em uma visão para entender o chamado de Deus para outras culturas visando levar o evangelho a todas as pessoas (Marcos 16.15). Pedro precisou ter sua mente moldada para se libertar da exclusividade do judaísmo (Atos 10.28) e no primeiro concílio da Igreja de Jerusalém, entenderam que a Igreja deve ser aberta para todas as raças (Atos 15.7). Então Deus levantou Paulo para evangelizar as nações gentílicas (Efésios 3.8).

Apocalipse 7.9 “Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos”

O Apocalipse revela que todas as raças serão salvas sem distinção, pois o Cordeiro “com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5.9) e a mensagem profética se destina às nações (Apocalipse 10.11), representados pelo símbolo das águas que significam os povos (Apocalipse 17.15). o livro conclui dizendo que a presença de Deus estará sobre os povos (Apocalipse 21.3) que serão completamente restaurados (Apocalipse 22.2).

Toda forma de discriminação é pecado!

A Bíblia condena o racismo!

CONCLUSÃO

Tito 2.11 “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens”.

A promessa de Deus em sua palavra, abrange a salvação para todas as pessoas que creem sem distinção com a bênção de Abraão: “em ti serão abençoados todos os povos” (Gálatas 3.8). Debaixo da graça Divina somos nivelados em igualdade como pecadores perdoados por Jesus Cristo.

Descobrimos que todas as raças têm a mesma origem na Criação, que os povos bíblicos eram em sua maioria de pessoas negras, que os personagens bíblicos não eram brancos e concluímos que toda forma de discriminação é pecado. Embora o judaísmo tenha cometido o erro de ser preconceituoso, este comportamento não condiz com a doutrina do cristianismo, que ensina a amar todas as pessoas sem distinção.

Um cristão não pode ser racista!