terça-feira, 26 de agosto de 2014

Vaias no funeral: onde foram parar os bons modos?



A família no velório
A família no velório
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Onde foram parar os bons modos? Vaias num funeral?
É, pelo menos, o que destacam os sites da grande mídia, com evidente regozijo.
Dilma e Lula, você lê, foram vaiados nas cerimônias fúnebres de Eduardo Campos, no Recife.
Vozes alternativas contestam. O jornalista Lino Bochinni, da Carta Capital, está no Recife, e afirma não ter ouvido as vaias.
Outros falam em vaias e aplausos. (Vaias sublinhadas e aplausos diminuídos nos sites.)
Mas, seja como for, o que impressiona é a banalidade da vaia.
Num velório, o maior insulto vai não para o apupado, mas para o morto e as pessoas que o amam.
Velório é um momento de trégua em disputas políticas. Por algumas horas, as desavenças ficam de lado em sinal de respeito e pudor.
Há, nas noticiadas vaias no Recife, uma barreira a mais quebrada na questão da civilidade.
A próxima etapa é vaiar o morto.
Não há um único artigo que condene as vaias e defenda um comportamento civilizado numa hora tão dramática.
Há, na verdade, uma maldisfarçada exploração da barbárie. A mídia parece não apenas gostar das vaias a Dilmas mas incentivá-las ao colocá-las nas manchetes ou mesmo dar-lhes uma dimensão muito acima da realidade.
A classe política contribui também, muitas vezes.
Jarbas Vasconcellos, político do PMDB pernambucano que sempre se opôs a Eduardo Campos, está sendo citado em todos os portais.
Você pode imaginar o motivo.
Vasconcellos apoiou as vaias a Dilma. Acusou-a de falsidade ao comparecer ao velório.
Mas a internet pode ser cruel com cínicos e oportunistas.
Viralizou na internet um vídeo – num outro funeral, alguns anos atrás – em que Vasconcellos critica brutalmente Campos.
É uma cena que impressiona. Num ambiente de tristeza silenciosa que é a marca dos velórios, Vasconcellos sussurra insultos contra Campos e seu governo por mais de três minutos.
A marca da administração Campos, segundo Vasconcellos, era o “mau caratismo”.
Mau caráter? Quem? Falsidade? De quem?
É urgente devolver a civilidade e os bons modos à política.
Respeitar os mortos é um primeiro passo.
Velório não é lugar para vaias. Repito: elas ofendem o morto muito mais que o destinatário delas.

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo

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