sábado, 19 de julho de 2014



A ETERNA LUTA DO POVO PALESTINO

por Guilherme Freitas

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Há 63 anos foi criado o Estado de Israel, para satisfazer o desejo do povo judeu que gostaria de ter a sua nação. Porém, nem todos saíram felizes desta história. Israel foi criado no território de outra nação, a Palestina, na época sob administração do Mandato Britânico (1922-1948). O Mandato, em consequência da Declaração Balfour, de 1917 (bilhete pelo qual o governo britânico apoiava o estabelecimento de um “lar judeu” na Palestina, endereçado a lorde Rotschild, banqueiro, líder da comunidade judia inglesa, e assinado por James Arthur Balfour, secretário do exterior inglês), desrespeitou procedimentos internos da própria ONU e levou sionistas para “ajudar” na administração da Palestina.
Entre 6% e 9% de terras palestinas foram compradas por judeus, que começaram a se estabelecer na região. Grupos armados sionistas foram formados para expulsar os palestinos (incluindo os judeus) de seu território. Usando força e violência, esses grupos assassinaram comunidades inteiras (há 31 massacres documentados) e destruíram suas vilas e cidades, para construir sobre suas ruínas as cidades de Israel. Muitas dessas ruínas permanecem nos territórios ocupados, e seus antigos moradores lutam até hoje para que não sejam destruídas, como em Lifta, em Jerusalém.Mais de 700 mil palestinos foram obrigados a abandonar suas propriedades e viver em acampamentos, como refugiados, em países vizinhos. Mais de 600 vilas e cidades palestinas foram destruídas para que Israel existisse. Para entender melhor essa situação, conversamos com uma especialista, a jornalista, editora, autora de livros e pesquisadora da USP Bernadette Siqueira Abrão, que atualmente ela está mora em Bil’in, em Ramallah, na Cisjordânia.
Para Baby (como ela gosta de ser chamada), a causa palestina, com um povo inteiro confinado dentro de um território ocupado, é emblemática de um mundo que precisa mudar. “O povo palestino é o único nessa situação no mundo atual. A Palestina deixou de existir porque foi colocado outro país dentro dela, e o povo foi, expulso de sua própria terra. Uma atitude ilegítima da ONU, algo único no mundo contemporâneo. A luta palestina é parte de uma luta maior pelos direitos humanos e pela auto-determinação dos povos”, afirmou.
A proposta da existência de criar de dois Estados – um para palestinos, outro para israelenses – como querem os Estados Unidos e a comunidade internacional, não dará certo e não é possível. “Os palestinos, no geral, não querem dois Estados. E mais uma vez são os países estrangeiros que estão decidindo a situação por eles. Ninguém foi lá para perguntar o que eles querem. Os palestinos querem um Estado único em toda a Palestina, que congregue todas as pessoas que vivem lá, além dos refugiados, cujo direito de retorno é inalienável. A solução de dois Estados é inviável”, completa Baby.
Segundo a pesquisadora, a culpa pelo impasse é do governo sionista de Israel “Eles inviabilizaram a Palestina. A partilha, que foi decidida em 1947 de maneira ilegal, ilegítima e imoral pela ONU, tinha cláusulas que Israel descumpriu e que afirmavam um Estado palestino soberano, jamais criado porque os sionistas não permitiram. Em 1967 Israel tomou a margem direita do rio Jordão (a Cisjordânia), Jerusalém Oriental, Gaza, as colinas de Golã (na Síria, onde estão as nascentes do rio Jordão, recurso estratégico naquela parte do mundo) e a península do Sinai, depois devolvida ao Egito. A partir de então o confisco de terras palestinas não parou mais. Para garantir a tomada dessas terras, os sionistas construíram nelas colônias judaicas, consideradas ilegais, e, com a desculpa de defendê-las, construiu e ainda constrói bloqueios e barreiras, como o Muro do Apartheid, composto de muros de mais de oito metros de altura e cercas eletrificadas, com portões e postos de controle (checkpoints) controlados pelo exército sionista. E, algumas vilas, esses portões só abrem das 7h às 19h. Em outras, como Bourin e Twami, os colonos atacam a população palestina, atacando pedras, esfaqueando, pondo fogo nas casas. Junte-se a isso a violência com o que exército sionista trata a população nativa e tem-se o cenário de terror em que vivem os palestinos. Hoje quase não sobrou nada da Palestina e, como os sionistas dominam a mídia, a propaganda e a economia da maioria dos países-chave do mundo, convencem parte da opinião pública a acreditar em suas mentiras. Felizmente, isso está mudando e no mundo todo vêm crescendo num ritmo veloz organizações de apoio político ao povo palestino e de isolamento do sionismo. A campanha BDS – boicote aos produtos fabricados em Israel, desinvestimento de dinheiro no país e sanções internacionais a ele até que as terras palestinas sejam desocupadas – também vem recebendo adesões importantes e numerosas, de universidades, centrais sindicais, empresas e fundos de investimento. A sociedade civil mundial se mobiliza diariamente, uma vez que seus governos não o fazem”.


Baby afirma que as diferenças entre Fatah e Hamas também prejudicavam a situação. “A divisão entre eles enfraqueceu os palestinos. Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Nacional Palestina) é chamado de “xerife sionista” pelos palestinos e já devia ter deixado o poder, pois seu mandato venceu em janeiro de 2009. Mas, como facilitou as coisas para os sionistas, como revelaram os Documentos Palestinos liberados pelo Wikileaks, continuou lá. O acordo entre esses dois partidos, além dos outros 13 existentes na Palestina, para um governo de unidade nacional até as eleições que devem ser convocadas para 2012, foi uma vitória da população, que lutou anos para que isso acontecesse. Esperamos que, no campo partidário, as coisas corram bem e possam facilitar o estabelecimento do Estado, ou o palestino ou o único”.
Sobre o Hamas, ela lembra que se trata de um grupo de resistência à ocupação sionista, que defende a luta armada numa fase e que há muitos anos aderiu à luta política, participando dela como um partido. “Foi a propaganda sionista que criou a imagem do Hamas como terrorista, para justificar o bloqueio desumano e ilegal a Gaza e o confisco de terras palestinas na Cisjordânia com a construção de muros e cercas”, afirma. “Mas esse argumento, como todos os outros mitos criados pelo sionismo, não se sustenta. É só pesquisar a história e os fatos”.

E
Ela acredita que um acordo entre os dois povos é difícil. “A menos que a comunidade internacional imponha sanções para Israel e respeite as decisões da população palestina, nada vai mudar. É preciso deixar claro que a maioria dos palestinos quer conviver com israelenses e judeus. O que se quer é enfraquecer o sionismo, assim como se enfraqueceram o nazismo e o fascismo – cujos métodos os sionistas utilizam –, até que ele acabe, para que haja um único Estado democrático para todos os que vivem aqui, além da garantia do retorno dos refugiados. O problema aqui, na Ásia ocidental, é o sionismo. É preciso eliminar o problema para que as pessoas vivam com dignidade”.
Baby também falou sobre a situação de famílias palestinas que estão vivendo no Brasil. “Há muitas passando dificuldades. Foram abandonadas pelo Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e pela ONU. Não tiveram aulas de português suficientes nem o apoio das assistentes sociais que deveriam ajudá-los”, fim.

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